Crédito: Matheus Campos
Legenda: Dr. Paulo Pizão, oncologista
O incômodo do toque na próstata no momento em que o urologista examina o homem é tão fugaz que qualquer piada a esse respeito chega a ser patética. O desconforto não dura nem um minuto e compensa demais se comparado a receber a notícia de que, em virtude do câncer, o paciente poderá ter que conviver com sequelas ou tem risco de morte porque o tumor da próstata atingiu outras partes do corpo. No papel de docente universitário eu falo aos meus alunos que, como médicos, temos que dar o exemplo e não compartilhar ou achar graça de tamanho gesto de imaturidade.
O câncer de próstata praticamente não tem sintomas e tem duas maneiras de se apresentar. Ele pode ficar oculto por anos e não se manifestar. Ou ele é agressivo e chega aos ossos -- ou outros órgãos -- atingidos por metástase, quando a corrente sanguínea ou vasos linfáticos do corpo contém células cancerosas.
O desafio atual da oncologia quanto ao câncer de próstata é classificar no paciente qual desses dois perfis tem o seu tumor. Esse conhecimento existe na medicina, mas ainda precisa de validação. Um tratamento só pode ser determinado depois de muito rigor e comprovação.
Por isso é importante o rastreio da população difundido na campanha anual do Novembro Azul. A incidência do câncer de próstata aumenta a partir dos 50 anos, idade que o homem deve começar anualmente a fazer exames de toque e de sangue (PSA).
Há alguns indícios do perfil do paciente acometido pelo câncer de próstata: ter 50 anos ou mais; ter antecedência familiar; ser da raça negra, ser sedentário ou obeso.
Por não apresentar sintomas não tão específicos, esse tumor masculino pode surpreender o paciente em estágio avançado. Se ele sentir uma dor óssea, encontrar sangue na urina, ter dificuldade para urinar ou sensação de que a bexiga não esvazia totalmente quando vai ao banheiro, já pode ser muito tarde para garantir que não haja consequências desagradáveis.
Quando o tumor na próstata é descoberto, o protocolo médico orienta vigilância com consultas marcadas em determinados períodos para o teste PSA. Não há indicação de medicação ou outro tratamento se o desenvolvimento do tumor estiver sob controle. No entanto, se o índice do PSA dobrar de uma hora para outra, é hora de tratar "com mão pesada".
A resistência do homem em cuidar da saúde e prevenir doenças se evidencia nesta época. A diferença na reação do público do Outubro Rosa e do Novembro Azul é enfática. O índice de presença de participantes num evento de conscientização para um e para o outro sexo é destoante. Não raro, as mulheres se engajam também nas ações do Novembro Azul para depois ter argumentos e cobrar dos maridos.
Parabéns às mulheres!
Sobre o Dr. PAULO PIZÃO
O oncologista Dr. Paulo Eduardo Pizão é um profissional global. Por ter trabalho como docente em faculdade, como pesquisador na indústria farmacêutica, gestor em instituições de saúde e por atuar no atendimento clínico, tem uma visão geral do setor e conhece o mecanismo desse segmento.
Suas atividades profissionais atuais:
Coordena o Serviço de Oncologia Clínica do Hospital da PUC Campinas; coordena a equipe médica da Oncologia Vera Cruz Hospital; é pesquisador no Centro de Pesquisa Clínica São Lucas (PUC-Campinas) e coordena a disciplina de Oncologia Clínica no Curso de Medicina da Faculdade São Leopoldo Mandic, Campinas-SP.
Suas especializações:
Especialista em Oncologia Clínica pela Sociedade Europeia de Oncologia Médica (ESMO); Especialista em Cancerologia (Oncologia Clínica) pela Associação Médica Brasileira; PhD em Medicina (Oncologia) pela Universidade Livre de Amsterdam, Holanda.
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