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Foto do escritorCláudia Rolim

Terra de Gigantes exalta a força de artistas e lideranças negras e indígenas

A exposição Terra de Gigantes pode ser vista no Sesc Casa Verde a partir do dia 21 de setembro, sábado, às 11h. A mostra convida o visitante a pensar em uma contemporaneidade e um porvir afroameríndio.


Com concepção e curadoria do artista, editor e pesquisador Daniel Lima, a mostra se desdobra em uma videoinstalação composta por onze cenas, incluindo intervenção poética e ateliê educativo, que exaltam as forças poéticas, simbólicas e mitológicas interseccionais entre as culturas negras e indígenas no Brasil.

 

Repleta de recursos audiovisuais desenvolvidos especialmente para promover uma vivência interativa, sensorial e singular, a mostra tem como inspiração atrações de parques temáticos como trem-fantasma e labirinto de espelhos. Ao longo do percurso, o espectador é provocado por uma série de projeções geradas a partir de sensores óticos acionados por presença: às vezes gigante, às vezes minúsculo, em um trajeto de luzes e vislumbres fantásticos evocados por personagens, performances, entrevistas e criações visuais.    

 

São protagonistas das cenas 12 artistas, coletivos e lideranças: Katú Mirim, rapper indígena paulista; Davi Kopenawa Yanomami, importante liderança yanomami e autor do livro “Queda do Céu”; Legítima Defesa, coletivo de atores e atrizes negros; Naruna Costa, atriz, cantora e diretora teatral que interpreta o texto “Da Paz”, de Marcelino Freire; Jota Mombaça, artista performática; Jonathan Neguebites, dançarino de passinho carioca; Daiara Tukano e Denilson Baniwa, artistas da cena da arte indígena contemporânea brasileira; a presença musical central de Naná Vasconcelos; cantos gravados por Juçara Marçal e Daiara Tukano, além da intervenção poética de Miró da Muribeca, poeta e performer pernambucano.

 

Terra de Gigantes tem como proposição cruzar essas gerações de artistas negros e indígenas para questionar um ideário brasileiro contemporâneo, reivindicando outra imagem de Brasil, não a criada pelo Modernismo a partir da perspectiva branca”, defende Daniel Lima. 

 

Segundo o curador, a exposição nasceu de um processo de pesquisa, autoeducação e investigação sobre o quilombismo que começou há anos, em projetos anteriores capitaneados por ele, como Quilombo Brasil, e a videoinstalação Palavras Cruzadas (2018/19), que deram as bases técnicas e poéticas do projeto atual.

 

Terra de Gigantes é uma expressão de questionamentos sobre o momento histórico que vivemos. Um documento vivo de forças que nos constituem como sociedade contemporânea no Brasil. A videoinstalação investe também na representação das forças opressivas que nos cercam como fogo ao redor. Em contraste, posicionamos as linhas de resistências articuladas neste imaginário político-poético”, conclui o curador.

 

Interação e acessibilidade: saiba mais sobre algumas das obras na exposição

 

Um dos destaques da exposição, cujo gigantismo simboliza seu título, a intervenção de Davi Kopenawa Yanomami surge projetada em uma escala aumentada em 800%. A partir de excertos de seu livro A Queda do Céu, Kopenawa fala sobre a força de resistência que existe não só em sua figura, mas na cultura do povo yanomami que, simbolicamente, por meio da dança de seus xamãs, garante que o céu permaneça sobre as cabeças e não caia.

 

A série “Kahpi Hori” da artista indígena Daiara Tukano ganha animação em formato tridimensional em uma sala de imersão visual e sonora. Imerso em um cubo com projeções mapeadas nas paredes e no piso e sonorizado com cantos entoados pela própria artista, o público vivencia um mergulho no universo simbólico de uma das expressões da arte indígena contemporânea brasileira.

 

Na performance corporal Get Up, Stand Up do Legítima Defesa, os integrantes do coletivo, divididos em três grupos e sem emitir falas, desafiam o público com gestos de afirmação através de projeção que responde à interatividade, criando um jogo de ações e movimentos com o espectador.


Terra de Gigantes conta com recursos de acessibilidade como mapa tátil, legendas em braile, tinta ampliada, audiodescrição, videoguia, audioguia e recursos tecnológicos como o vibroblaster, que transforma o áudio em vibrações sensíveis. A exposição conta também com um ateliê educativo aberto ao público com atividades mediadas e um espaço de leitura.

 

SOBRE O CURADOR

Nascido em Natal (RN), em 1973, Daniel Lima é artista, curador, editor e pesquisador. Bacharel em Artes Plásticas, mestre em Psicologia Clínica, doutor em Meios e Processos Audiovisuais pela Universidade de São Paulo e integra o laboratório LabArteMídia. Desde 2001, cria investigações-ações em pesquisas relacionadas à mídia, questões raciais, resistências coletivas e análises geopolíticas. É integrante fundador de diversos coletivos, entre eles a Frente 3 de Fevereiro, com trabalhos desenvolvidos em várias cidades do mundo, tendo recebido diversos prêmios nas áreas de Artes Visuais, Cinema e Estudos Sociais – recentemente foi agraciado com o 64º Prêmio Jabuti (2022), como editor na categoria “Artes”. Participou de diversas exposições, festivais e seminários nacionais e internacionais. Dirige a produtora e editora Invisíveis Produções.

 

SOBRE OS ARTISTAS


Daiara Tukano

Nascida em São Paulo, Daiara Hori Figueroa Sampaio - Duhigô, do povo indígena Tukano – Yé'pá Mahsã, clã Eremiri Hãusiro Parameri do Alto Rio Negro na Amazônia brasileira, é artista, ativista, educadora e comunicadora. Graduada em Artes Visuais e mestre em Direitos Humanos pela Universidade de Brasília (UnB), pesquisa o direito à memória e à verdade dos povos indígenas. Ganhadora do Prêmio PIPA Online 2021, organizado pelo Instituto PIPA, um dos mais relevantes prêmios brasileiros de artes visuais.

 

Davi Kopenawa Yanomami

Liderança reconhecida internacionalmente em sua luta pela defesa do território, foi tradutor e chefe de posto da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas). Na década de 1970, percorreu a área Yanomami em função de diversos trabalhos, tomando consciência de sua extensão e de sua unidade cultural. Por sua atuação recebeu o prêmio Global 500 da ONU e diversas outras homenagens nacionais e internacionais, como o prêmio Itaú Cultural 30 anos, em 2017. É doutor Honoris-Causa pela Unifesp, título outorgado em março de 2023. Autor do livro A Queda do Céu, é codiretor do documentário experimental Xapiri e assina o roteiro do filme A última Floresta em parceria com Luiz Bolognesi.

 

Denilson Baniwa

Nascido em Mariuá, às margens do Rio Negro, no Amazonas, é artista visual e comunicador e desenvolve seus processos artísticos e sociais a partir do Movimento Indígena Amazônico, também com trânsito pelo universo não-indígena. Baniwa é um artista indígena e seu ser indígena o leva a inventar um outro jeito de fazer arte, onde processos de imaginar e criar surgem por força de intervenções em uma dinâmica histórica – a da colonização dos territórios indígenas que hoje conhecemos como Brasil – e interpelações a aqueles que o encontram a abraçar suas responsabilidades.

 

Jonathan Neguebites

Nascido em Realengo, na zona oeste do Rio de Janeiro, Neguebites conquistou o Brasil e o mundo como dançarino e professor. Ficou conhecido em 2016, quando começou a ganhar suas primeiras Batalhas de Passinho, conquistando quatro delas como campeão: Batalha da Flupp; Batalha do Batan; Desafio do Passinho; e Hip Funk Festival. Logo no início das primeiras batalhas foi convidado a participar de um evento do Heavy Baile e, depois disso, nunca mais saiu de cena: hoje ele é um dos mais expressivos artistas que compõem o coletivo de funk carioca.

 

Jota Mombaça

Artista e escritora indisciplinar, cujo trabalho deriva de poesia, teoria crítica e performance, sua prática está relacionada à crítica anticolonial e à desobediência de gênero. Já apresentou trabalhos em diversos contextos institucionais, como as 32ª e 34ª Bienal de São Paulo, 10ª Bienal de Berlim, 22ª Bienal de Sydney e 46º Salão Nacional de Artistas da Colômbia. É autora do livro Não Vão Nos Matar Agora, publicado em Portugal, em 2019, pela EGEAC e no Brasil, em 2021, pela Editora Cobogó.

 

Juçara Marçal

Cantora do grupo Metá Metá, integrou os grupos Vésper Vocal, A Barca e Ilú Oba De Min. Em 2014, lançou Encarnado, seu primeiro disco solo. Naquele mesmo ano o álbum foi vencedor do Prêmio APCA, na categoria Melhor Álbum, e ganhou o Prêmio Governador do Estado, promovido pelo Governo do Estado de São Paulo, como o Melhor Álbum na escolha do júri. Em 2021 lançou seu segundo disco solo e mais recente trabalho autoral, Delta Estácio Blues.

 

Katú Mirim

Mulher lésbica, indígena, rapper, compositora, atriz e criadora de conteúdo, é reconhecida por suas letras que reconta a história da colonização pela ótica indígena e aborda temáticas que atravessam sua vida, identidade, gênero, lesbianidade e maternidade. Em 2017, ano em que lançou seu single de estreia Aguyjevete, viralizou com a hashtag #indionaoefantasia trazendo à tona o debate sobre os costumes indígenas utilizados fora do contexto aos quais eles pertencem. Ainda em 2017, fundou o movimento VI – Visibilidade Indígena, que luta pelos direitos e representatividade dos povos originários.

 

Legítima Defesa

Formado em 2015, o grupo de artistas, atores, atrizes, DJs e músicos de ação poética e política tem como foco a reflexão e representação da negritude, seus desdobramentos sociais históricos e seus reflexos na construção da persona negra no âmbito das linguagens artísticas. Em 2017, estreou o espetáculo A Missão em Fragmentos: 12 cenas de descolonização em legítima defesa na programação da Mostra Internacional de Teatro (MIT). Em 2019, estreou o espetáculo Black Brecht: e se Brecht fosse negro?, projeto contemplado pelo Prêmio Zé Renato e considerado pelo Guia da Folha como um dos mais relevantes daquele ano.

 

Marcelino Freire

Escritor, nasceu em 1967, em Sertânia, Pernambuco. É autor, entre outros, dos livros Angu de Sangue (Ateliê Editorial) e Contos Negreiros (Editora Record – Prêmio Jabuti 2006). Criou a Balada Literária, evento que acontece em São Paulo desde 2006, com edições em Salvador (desde 2015) e em Teresina (desde 2017). No final de 2013 publicou seu primeiro romance, intitulado Nossos Ossos (Record), vencedor do Prêmio Machado de Assis. Coordena oficinas de criação literária desde 2003.

 

Naná Vasconcelos

Nascido no Recife em 1944, e dotado de uma curiosidade intensa, indo da música erudita do brasileiro Heitor Villa-Lobos ao rock psicodélico de Jimi Hendrix, Naná aprendeu a tocar praticamente todos os instrumentos de percussão e, desde o final dos anos 1960, fez das experimentações com o berimbau sua marca registrada. Eleito Melhor Percussionista do Mundo por oito vezes pela revista Down Beat, vencedor de inúmeros prêmios Grammy, Naná deixou sua música universal em cerca de 400 gravações autorais e de artistas como Egberto Gismonti, Itamar Assumpção, Milton Nascimento, Pat Metheny, B.B. King e Chaka Khan. Ao lado de Collin Walcott e Don Cherry, formou o trio Codona.

 

Naruna Costa

Nascida em Taboão da Serra, em São Paulo, em 1983, a atriz, cantora e diretora é reconhecida pela valorização poética das periferias paulistanas e da presença negra no cenário cultural. Formada na Escola de Arte Dramática (EAD) da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP), Naruna é cofundadora do Espaço Clariô Taboão da Serra e do premiado Grupo Clariô de Teatro, referência da militância negra de cultura periférica de São Paulo. Também lidera o Clarianas, grupo de pesquisa de música urbana de raiz popular.

 

Miró da Muribeca

Nascido no Recife em 1960, João Flávio Cordeiro da Silva, Miró da Muribeca, foi um poeta e cronista urbano. Tornou-se conhecido em todo o país por suas performances singulares e seus poemas que retratam questões essenciais humanas e as injustiças sociais. Tem uma poesia marcada pelo lirismo do cotidiano e por um olhar aguçado sobre a vida nas cidades.

 

SOBRE O SESC SÃO PAULO

Com 76 anos de atuação, o Sesc – Serviço Social do Comércio conta com uma rede de 42 unidades operacionais no estado de São Paulo e desenvolve ações com o objetivo de promover bem-estar e qualidade de vida aos trabalhadores do comércio, serviços, turismo e para toda a sociedade. Mantido por empresários do setor, o Sesc é uma entidade privada que atua nas dimensões físico-esportiva, meio ambiente, saúde, odontologia, turismo social, artes, alimentação e segurança alimentar, inclusão, diversidade e cidadania. As iniciativas da instituição partem das perspectivas cultural e educativa voltadas para todas as faixas etárias, com o objetivo de contribuir para experiências mais duradouras e significativas. São atendidas nas unidades do estado de São Paulo cerca de 30 milhões de pessoas por ano. Hoje, aproximadamente 50 organizações nacionais e internacionais do campo das artes, esportes, cultura, saúde, meio ambiente, turismo, serviço social e direitos humanos contam com representantes do Sesc São Paulo em suas instâncias consultivas e deliberativas. Saiba mais aqui.


SERVIÇO

Terra de Gigantes

Local: Sesc Casa Verde

Abertura: 21 de setembro de 2024, às 11h

Visitação: até 22 de dezembro de 2024

Horário de funcionamento: terças a sextas-feiras, das 10h30 às 18h30; sábados, domingos e feriados, das 10h30 às 17h30.

Acessibilidade: mapa tátil, legendas em braile, tinta ampliada, audiodescrição, videoguia, audioguia e vibroblaster. A mostra Terra de Gigantes contém sequências luminosas e sonoras que podem afetar os visitantes com sensibilidade a luz e som.

Agendamentos de grupos: agendamento.casaverde@sescsp.org.br

Classificação: livre

Entrada gratuita

 

SESC CASA VERDE

Endereço: Avenida Casa Verde, 327, Casa Verde, São Paulo.

Telefone: (11) 2238-3300 

Estacionamento: entrada pela Rua Soror Angélica, 751.

Valores: Credencial Plena: R$ 17,00 (primeiras 3 horas) e R$ 3,00 por hora a mais. Outros: R$ 25,00 (primeiras 3 horas) e R$ 4,00 por hora a mais.

 

Acompanhe o Sesc Casa Verde na internet

Instagram: @sesccasaverde

 

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